As Duas Torres de Miro

A nova face de Tróia acaba de surgir... O futuro é brilhante, glam e luxuoso - afinal não se compra uma das menos devastadas áreas balneares de Portugal para fazer peanuts: o segmento médio-alto, os congressos e ajuntamentos de médicos/farmacêuticos e outras corporações irão pagar os investimentos que o Mirinho fará nesse maravilhoso local que já foi símbolo do Portugal Mild Salazarento, do capitalismo popular sob a forma de dinheiro de imigrantes transformado em time-sharing manhoso... e após o 25 de Abril surgiu como bacanal das comissões de trabalhadores que proliferaram como cogumelos.

Mas tudo mudaria quando já em 1997, Miro de Azevedo e sus muchaços adquiriram os restos mortais da extinta Torralta. Antes de mais tentaram correr à paulada com os proprietários definitivos do agora Resort, infelizmente os tribunais estragaram-lhe a festa. De seguida pensaram em grande: Casino, aparthotel e Hotel com astros de 5ª ordem. Para o plano correr certo tinha que impedir que o povo de Setúbal frequentasse as praias do Resort (afinal há poucos congressos na Costa da Caparica) - A genialidade não se fez esperar: faz-se um cais 4 Km a sul de Tróia fazendo a população em geral ( e maioritariamente, sem carro. ) atracar na terra de ninguém. Claro está que na zona mais desocupada do litoral a menos de 100 Km de Lisboa já não há terra de ninguém... Existe sim um maravilhoso Condomónio chamado Soltróia... uma daquelas coisas tão boas e exclusivistas que só é possivel ter sido feito sobre a bandalheira pós 25 de Abril e com a ajuda de alguns decisores deste pais na dupla condição de moradores no dito local. Para esses o contacto com o Portugal de segunda embarcado nos ferries provindos de Setúbal fará a diminuição do valor imobiliário da zona... é triste !?

Assim chegamos ao presente... com as torres extra da Torralta reduzidas a escombros. A paisagem está melhor. E há menos betão na Peninsula de Tróia, mas infelizmente é mesmo sol de pouca dura. Os Portugueses vão perder um dos melhores locais de praia do país para o turismo high-end. Azar, sempre nos resta o Brasil.